sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Barulho - Simone Guelman

Abri o olho. Não enxergava. Minha respiração era forte e ofegante, querendo capturar todo o ar que havia. Mexi os braços e as pernas. No movimento, bati com força em uma superfície plana e dura. Estava escuro.
Pensei se estaria vivo, busquei os sons. Ouvi o silêncio do barulho. Era aquilo um silêncio absoluto ou a mistura de sons sem significado? Pensei na analogia com o fato de ser o branco o conjunto das cores.
É esse o limite da nossa compreensão? É quando, no extremo, temos pena de nós mesmos por não acreditarmos em nada que possa servir como consolo, como justificativa, ou que seja capaz de, num milagre, transformar uma tempestade num lindo dia de sol? Difícil esperar um milagre sem acreditar que exista. E, sem essa esperança, como seguir adiante?
Andamos sempre perto da borda, olhando para o outro lado, ignorando o abismo próximo; buscando paisagens que nos desviem o olhar; procurando borboletas, pássaros e flores, como se essas borboletas, esses pássaros e essas flores pudessem definir o caminho, isentar do risco e justificar o cansaço, o medo, a tensão, a loucura… Mas, na hora que tropeçamos numa pedra e damos de cara com o precipício, somem as flores; os pássaros parecem não indicar o caminho e as borboletas voam fugazes nos deixando sem esperança, sem saber como escapar do cansaço, do medo, da tensão e da loucura… E aí é o risco de perder o equilíbrio que perturba, atormenta.
Risco que só aparece depois do primeiro tropeço, quando as cores das borboletas, das flores e dos pássaros ficam embaçadas, como se estivessem escondidas por uma lente fosca, da qual, por incapacidade, não podemos mais prescindir.
Penso e me mexo. Estou vivo?
Os sons embaralhados, a contradição da solidão na multidão. Nada tem significado. E ainda assim respiro ofegante e busco desesperadamente o ar.
Os pensamentos, condição de vida, me sufocam. E essas contradições? Como viver com elas? Respiro ofegante e penso. E se não existissem?
Sinto faltar o ar. Sinto doer o corpo. E estou anestesiado pelo vazio, pela angústia.
Misturo presente e passado, num só tempo infinito, que me esmaga. Ou esmagou? Em que tempo eu vivo? Vivo?

Um comentário:

  1. PRO:
    Instigante, toda a narrativa que gira em torno do que esta acontecendo com a pessoa e extremamente cativante, amo textos onde vc tem que descobrir o que esta acontecendo seguindo pequenas dicas narrativas. Muitas das passagens são quase poéticas, e muito bem escritas.

    Li esse texto diversas vezes, e cada vez que leio, eu gosto mais dele, existe um conteúdo brilhante e tiradas que são simplesmente geniais.

    (exp. Sinto faltar o ar. Sinto doer o corpo. E estou anestesiado pelo vazio, pela angústia.)

    Adorei essa parte.

    COM:
    O texto tem altos bem altos, e baixou bem baixos, a professora estava certa (Ouvi o silêncio do barulho) não soa nem um pouco bem, também não funcionam algumas das tentativas de contemplações filosóficas..

    (exp. É esse o limite da nossa compreensão? É quando, no extremo, temos pena de nós mesmos por não acreditarmos em nada que possa servir como consolo, como justificativa, ou que seja capaz de, num milagre, transformar uma tempestade num lindo dia de sol?)

    Sim existe boas idéias que vc esta buscando salientar, imagino que vc esteja argumentando sobre a necessidade de se ter fe, e talvez que a solidão seja uma correlação a ausência de Deus, porem a narrativa e por demais irregular, e temos muitas linhas gastas circulando um pensamento que nunca e plenamente desenvolvido. E como se eu estivesse lendo duas estórias que competem entre si, uma e da pessoa enterrada viva, a outra e sobre conceitos que sim são bem bacanas, porem como na sua própria analogia vc observa, ao juntar muitas cores, vc fica somente com o branco, ou seja, perdemos as nuances e ficamos com um bloco impenetrável de platitudes.

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