quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A OFICINA DE ESCRITA

Eu não escrevia havia quase um ano e naturalmente me sentia inseguro em recomeçar. Acredito que não desejava reiniciar, mas naquele evento eu não tive muita opção. Se tratava da primeira tarefa da oficina de escrita na qual eu havia me inscrito fazia uns dois meses. Pensando melhor, se eu me inscrevi é provavelmente porque adoraria me aventurar pelas páginas em branco novamente. Comecei a digitar, bastante estimulado, no computador. Como era de costume, o início parecia fácil, mas, após algumas frases escritas, a variedade de idéias e a falta de foco pareciam imobilizar meus dedos no teclado. Não conseguia digitar algo que parecesse me fazer qualquer sentido e, especialmente, que eu achasse que agradaria à professora. Naturalmente, queria muito impressionar bem a professora. Uma professora que eu nunca tinha visto pessoalmente. Isso mesmo, não a havia conhecido, pois essa era uma tarefa anterior à primeira aula. Além de querer impressioná-la pelo simples fato de que ela seria minha mestra no curso, eu havia lido o nome dela no jornal naquele mesmo dia e pretendia assistir uma palestra que ela daria em breve. Era a época de uma feira editorial na cidade e os escritores estavam em alta. Tudo conspirava para aumentar meu nervosismo e congelar minhas mãos, mas resolvi seguir em frente. Como se não precisasse de nada mais para me pressionar, minha mulher chegou em casa e o relógio começou a andar mais rápido.

Dar um beijo e boa noite.
Colocar a filha pequena para dormir.
Preparar o jantar.
Arrumar a mesa.
Dar outro beijo.
Acender as velas.
Saber como foi o dia dela.
Contar como foi o meu.
Dar o terceiro beijo.
Terminar de escrever.

Se sentir bem por ter acabado o texto, mas com uma inquietação dentro da cabeça que parece sempre perguntar: “que será que ela vai achar do seu texto?” e “como será que vai ser o curso?”.

Felipe Candiota

Um comentário:

  1. PRO:
    O escritor se expõe fazendo um texto que fala mais de si mesmo, seus medos e ansiedades, que em sua escrita por si. O texto tem um tom irreverente que me agradou muito, e a idéia de escrever sobre estar escrevendo e bem divertida, quase um ¨Mise en abyme¨, quase.

    COM:
    Ao meu ver, o autor se absteve de escrever o trabalho, narrando no lugar do mesmo seus sentimentos e acontecimentos durante o processo, por um lado isso me agradou por que pude entender o real obstáculo para ele realizar seu desejo (ou sonho), todos temos medo de fracassar, porem, quando deixamos esse medo nos inibir de fazer algo, e pra mim, o equivalente a cometer suicídio por medo de morrer.

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